terça-feira, 29 de maio de 2012

Quiçá a crisálida de um outro encontro


Você sempre me encontra assim,
em noites eternas posto que impermanentes,
o único e absoluto tempo de viver.
Seu olhar é estradeiro, a saudade alada
e o coração, vagabundo.
Nem ouso perguntar
por onde tem andado,
você não diria.
Eu me desassossego,
queria ser ubíquo
em todos os seus atos
para não precisar
de tradução de seus gestos.
Sua versão é imperfeita,
menos vívida que legítima.
Há um abuso de entrelinhas,
frangalhos de memórias,
dejetos de enredos
que se extraviaram.
Suas frases,
atordoadas em lacunas,
contam do ruminante cotidiano.
Não sei se tomo
o valor nominal do que diz
como a real cotação das palavras.
Você me diz que está perdida.
Mas tantas vezes a gente se perdeu,
simplesmente porque tentamos
encontrar significado onde não havia.
Você insiste. Aponta para mim
como seu porto seguro,
mas diz que o mapa do retorno se consumiu,
a rosa dos rumos ensandecida.
Outros pretextos com que finjo concordar,
já que não me movo,
tenho estado aqui por eras.
Porém sei do seu apreço
pelo gosto de voltar
: sou todo familiaridade.

Fio de Teseu no labirinto.
Prendendo você justamente
por lhe dar toda a liberdade.


18 comentários:

Rafaela Gomes Figueiredo disse...

pois bem, soltei um baita palavrão ao término da leitura!
às vezes, só ele liberta-me da insatisfação pelos elogios rasgados [e sinceros!] que devo a teus poemas!

cada verso aqui foi milimetricamente costurado - com o fio de teseu ou ariadne - neste dédalo que é o reino das palavras - onde tua caneta [extensão de ti] rege.
ok, não resisti. rs

beijão

Fabrício César Franco disse...

Rafaela,

Estranho como deva parecer, eu fico muito grato pelo seu palavrão (rs!). E mais grato ainda pela sua leitura generosa dos meus poemas.

Seja - sempre! - bem-vinda por aqui!

Um beijo, com carinho!

Raquel Sales disse...

Fabrício,

Pus-me a refletir... Profundo e paradoxal... É bom prender-se, justamente por ganhar liberdade. (Será? Sei lá...)

bj inté...

Fabrício César Franco disse...

Raquel,

... E o que somos, senão um feixe de paradoxos, (sobre)vivendo nesse conluio de falsas certezas?

Abraço!!

Will Carvalho disse...

Acho que já disse isso, mas quero dizer-te mais uma vez.
Teus poemas são para mim (como poucos) como aquela música que você gosta tanto de cara, que coloca ela pra ficar repetindo, sem parar. Leio-o. Depois passo alguns segundos digerindo. Leio mais uma vez - e algumas vezes - uma vez mais. E aí tento comentar o que senti, normalmente, sem sucesso.

Seus poemas têm um poder que eu gostos demais quando acontece. Eu me transporto pra o momento ou sentimento narrado.

abs!

Fabrício César Franco disse...

Will,

Fico muito honrado e grato ao saber disso. Escrevo para me conectar ao mundo, fazer disso que nos cerca algum sentido. E se encontro eco no entendimento da leitura alheia, vejo que - finalmente - alcancei o que eu desejava. Essa 'sincronicidade' de ideias é meu alvo, sempre.

Abraço, meu caro!

Nanda disse...

Só é preciso ter cuidado com os 'Minotauros' que ronam a relação...

Fabrício César Franco disse...

Nanda,

Para isso que serve o fio de Teseu (ou o mapa comprado à entrada do labirinto): saber a rota e seus perigos é o diferencial. =)

Abraço!

Anônimo disse...

Por sua poesia fui conduzida como em uma musica. Estava solta, sentindo que falava comigo e com tantas: o Universal se faz assim.
A grande beleza estah nesse entendimento do que vai na alma. Traduzi-lo em palavras eh pra poucos.
Muito bom,Fabrício. Gostei demais,
D. Coy

Fabrício César Franco disse...

Diana,

E o que mais gostei foi sua visita (e comentário) por aqui. Gostei muitíssimo!

Beijos!

Anônimo disse...

Ah! meu caro POETA!
Observo que neste ( como em outros de seus poemas) aparece a pluralidade do sentimento que liga o homem e a mulher. Dessa ligação, entretanto,se afasta aquela impressão de harmonia que o ideal romântico mistura ao amor. E é o que, infelizmente sói acontecer...
Você traduz a realidade com ARTE!
Grande abraço!
Andrea Marcondes

Fabrício César Franco disse...

Andrea,

... O ideal romântico está muito defasado. Foi uma imposição artística, que não corresponde à realidade.

Obrigado pela leitura atenta e pela visita!

Abraço, com carinho!

Shirlei disse...

Fabrício,

Adorei o ler seu texto, isso não é nenhuma novidade! Mas percebi algo diferente na escrita, um poema cerzido, sutilmente costurado, que me fez sentir a liberdade do poeta verdadeiramente!!!).

A vida é complexa, mas pode ser com leveza, não é?

Abraços,

Shirlei

Fabrício César Franco disse...

Shirlei,

Você é a segunda pessoa que comenta a cerzidura desse poema. Não foi proposital, mas fico contente que eu tenha conseguido tal feito.

Muitíssimo obrigado pela visita!

Abraço!

Anônimo disse...

Oi Fabrício,

saudade da força de sua palavras. Como é bom te ler.

O cativeiro que brota da liberdade é o mais difícil de nos libertarmos dele, simplesmente porque nos permite escolha.

Beijos

Fabrício César Franco disse...

Oi, Van!

Também estou lhe devendo uma visita, coisa que o farei em breve.

Obrigado por sua leitura generosa!

Beijo!

Anônimo disse...

A primeira coisa que me vem à mente é apenas retórica: lindo!
Li e reli e concluí que o fio de Teseu deveria prender-nos a todos, não só para que não nos perdêssemos, para, principalmente, nos encontrarmos neste labirinto difícil que é a vida.
Bjusss

Fabrício César Franco disse...

Suzana,

De certa forma, acredito que a poesia faz esse papel, de nos ligar uns aos outros, através da palavra.

Beijo!

 
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