quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Efeméride,
Impermanência,
Itinerário,
Quietude,
Requinte
Joias litorâneas
Nas praias vivem os arautos do tesouro
: meninos descalços, sem camisa, sem escola,
deuses da beira-mar.
No açoite das ondas nos rochedos,
a oblação do oceano
: estrelas-do-mar, caurins, conchas –
inteiras, infractas, resplandecentes.
A possibilidade polida em turquesas marítimas, esmeraldas oceânicas, safiras pelágicas, variegadas gemas mágicas.
Transubstanciação, sortilégio antigo,
na solidão dos promontórios
eles fazem do que encontram
artesanato, colares e pulseiras.
Abrolham repentinos,
como se surgidos da própria viração.
No comércio convicto de seu engenho,
não regateiam talento, mas o preço,
durando apenas o enquanto
do negócio para, logo em seguida,
deixar apenas rastros difusos
a serem comidos pela próxima vaga faminta.
Escrito por
Fabrício César Franco
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14 comentários:
"No comércio convicto de seu engenho não regateiam talento"...
Como regatear um talento como o seu? Como furtar-nos de ler poesia como a sua?
Que seu rastros difusos não seja realmente comido pela próxima vaga.
Bjuss
Obrigado pelas palavras encorajadoras, Su! Mas o talento, de verdade, não é meu: é deles, que fazem do seu sustento diário esse ressignificar do que a natureza já, por si bela, nos dá.
Um beijo!
Ah... as praias!!!
Inexplicáveis marés que brincam de letras nas areias da praia. Ondas mágicas que navegam sem deixar rastros, ou melhor, deixam apenas saudades rastreadas em nossas sentimentaloides vidas...
ahh... o mar!
Belo.
Abraços
Suzana,
As praias me fascinam desde pequeno. Não sei se é algo congênito (ser mineiro tem dessas coisas, a atração inescapável pelo mar, pela areia, pela brisa que vem das ondas) ou adquirido; sei, tão somente, que preciso me reenergizar, de tempos em tempos, seja em que praia for. E rememorar, sempre, o bom tempo passado por lá.
Muito obrigado pela visita! Um abraço!
Cada um fazendo o alcançável...
São admiráveis os trabalhos: deles e seu!
A descrição tem um ritmo, que me fez acompanhar cada passo da confecção [e desse mar aí].
Beijo, Franco!
Rafaela,
... Construímos com o que temos à mão, não é? E a habilidade do leitor, em identificar pontos em comum, é um grande achado. Obrigado pela leitura generosa.
Beijo!
Dessas ondas marítimas, somos o rastro que delas nos devolve.
Beijos.
Fernanda,
... Você resumiu muitíssimo bem!
Muito obrigado pela visita!
Um beijo!
Caro POETA,
Permita-me repetir ( o que já lhe disse): você registra os fatos mais simples, com tal maestria, que , na análise "do ordinário", conduz o leitor à "busca da conexão subjacente".
Hoje, ao ler seu poema,pensei, analisei... JÓIAS HUMANAS, estes que "fazem do que encontram" - "jóias' para a sobrevivência. E pensar que , quase nunca. os valorizamos!...
Grande abraço,
Andrea Marcondes
Andrea,
Foi por não os valorizrmos, por quase não percebê-los à nossa presença, que me vi - um dia - forçado a vê-los, realmente. Observá-los. E notar que eles fazem dessa inobservância alheia seu modo de vida, estando no enquanto do negócio.
Um abraço com carinho!
É como dizem: a beleza está nos olhos de quem vê. =)
Nanda,
E estar atento, não é?
Abraço!!
Fabrício,
Desta vez, você remeteu-me à Bahia e todos os seus cantos... Uma terra em que “Capitães da Areia” vendem até aquilo que não existe, na esperança de juntar algum “capilé”. Até hoje, não compreendi se são anjos inocentes ou saci-pererês a fazer traquinagens. A melodia da negociação é quase hipnose. E a gente abre a carteira e sai feliz, levando as joias litorâneas...
Bj
Raquel,
Mas foi justamente com as praias baianas em mente que compus esse poema... Sincronia de ideias e de experiências!
Beijo!
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