quinta-feira, 4 de abril de 2013

Fantasmagoria


Ônibus noturno.
Citígrados em estase,
passageiros banhados
em obscuridade fluorescente
assentam-se taciturnos,
todo canto e fresta iluminados,
ninguém lançando
uma sombra sequer                                     

– como um desmorto
que rondasse um rarefeito
castelo cárpato.

Há dois mundos                       (disjuntos)
: o realismo rigoroso e luzidio do interior
e o impressionismo externo,
onde luzes coloridas estilam
e se difundem pela escuridão,
lambuzando pupilas,
borrando e fluindo
sobre uma tela dinâmica de noite.
Um acervo que se perde
no grande ventre do nada
ao que o ônibus estaciona
e embarca mais fantasmas combalidos,
outros avantesmas que se amesquinham
a um instante do colóquio gratuito.



16 comentários:

Raquel Sales disse...

Fabrício,

por vezes, mesmo quem não circula de ônibus se sente meio fantasma, no universo paralelo da hora do rush... Pilota-se no automático... Retinas tão castigadas que só percebem vultos de outros tantos fantasmas... indo e vindo, sabe-se lá pra qual túmulo...

Aff! E como é exaustivo!!!

Bom resto de semana... bj


Fabrício César Franco disse...

Raquel,

Justamente é por causa disso é que resolvi escrever a respeito. Para dar um volume, uma densidade aos fantasmas. Quem sabe, assim, forçamo-nos a uma pausa - necessária - e (re)focamos nossa visão no que interessa: nosso convívio.

Beijo!

Anônimo disse...

Caríssimo POETA,
Precioso o seu trabalho com os signos linguísticos!
Já lhe disse: você FALA do cotidiano, com profundidade. E é extremamente original o modo como você o faz.
...................................
Li, reli o seu texto, encantando-me com as IMAGENS e a ARTE NO USO DAS PALAVRAS!
Grande abraço,
Andrea Marcondes

Fabrício César Franco disse...

Andrea,

Gosto de, às vezes, "cotidianizar" minha poética, trazendo um olhar diverso sobre o costumeiro, tantas vezes (e por isso mesmo) repetido e não observado. Contudo, percebo que a maioria de meus leitores não gosta muito desse meu viés: veja, são poucos os comentários quando me debruço sobre o tema...

Ainda assim, insisto...

Abraço, com carinho!

Anônimo disse...

No castelo cárpato rondam os fantasmas ingratos a aterrorizar jovens incautos. Da janela do ônibus noturno, divisam-se imagens nefastas, dos mesmos fantasmas de andares soturnos.
Por isso sou diurna...

Bjuss

Fabrício César Franco disse...

Su,

Obrigado pela visita. Eu também sou de pouco andar de ônibus, mas não pude resistir ao convite à observação dos meus co-passageiros.

Abraço!

Rafaela Gomes Figueiredo disse...

Tão bonito esse teu lapidar poético na pedra bruta da realidade.
Meu espaço urbano preferido é aqui!

Bjo, Franco

Fabrício César Franco disse...

Rafaela,

Que bom que tenha gostado. Parece que a poética do cotidiano não faz tanta monta, tanta vista aos olhos, quanto quando falo de sentimentos e querelas.

Volte sempre!

Beijo!

Nanda disse...

O trânsito por aqui anda tão, mais tão caótico - engarrafamentos, ônibus lotados - fica difícil se desligar dos problemas. Ao contrário, somam-se fantasmas, medos e sombras. Numa leitura mais light, lembrei deste filme, que amo. http://www.youtube.com/watch?v=ChG04q6rypc - Inté!

Fabrício César Franco disse...

Nanda,

Foi justamente pensando em cidades onde o caos impera no tráfego que escrevi esse poema. Veio de minhas memórias de quando eu vivia em Belo Horizonte... Sei bem o que você vive.

Abraço e obrigadíssimo pela visita!

Luciana disse...

Fab,

suas memórias do trânsito de BH, ficariam vexadas se pudessem ver a realidade de hoje!! Pelo menos, posso ver o surreal desse sistema-emaranhado-reboco-floculado da cidade grande com poesia. A sua.

Fabrício César Franco disse...

Liu,

O que quer dizer com memórias vexadas? O trânsito de BH está pior do que eu jamais supusera???

Obrigado mesmo pela visita (e comentário!).

Beijo, no aguardo, se der, de uma resposta.

Luciana disse...

Tá bemmmm pior... e nem vale a pena entrar no assunto porque aborrecido demais!! E a melhor saída nem é o aeroporto, pq leva duas horas pra chegar lá... ideal mesmo é ficar em casa e pedir comida pelo telefone e virar um hikikomori. Mas como não tenho vergonha na cara e preciso me estressar pelo menos um pouco, saio. E Deus salve a bagunça!!

Fabrício César Franco disse...

Liu,

Dúvida urgente: hikikomori veio do japonês, presumo. Quer dizer eremita urbano?

Beijo!

Luciana disse...

Presumiu, como de costume, corretamente. Vou escrever um post sobre hikikomoris no Carrollingias, boa ideia. Aguarde...

Fabrício César Franco disse...

Liu,

... Viu como eu gosto de um comentário seu? Acabo aprendendo alguma coisa.


Beijo!

 
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