quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Circunstantes


1.
Dia. Céu de nuvens rápidas.
Essa manhã tem o ritmo desajeitado
de uma língua estrangeira. Você me olha
com uma falta de pressa como se sempre
estivesse estado ali, a me olhar. Estou
desenhado na superfície de sua retina,
impresso indelével. Compactuamos o mesmo
espaço, e agora tenho você inoculada em mim,
cada pulsação tem o seu nome.

2.
Na suaviloquência dos sussurros,
buscamos capturar a impermanência
em pegadas na areia. Tormenta passada,
vejo nossos barcos à deriva novamente,
âncoras levantadas pelo quarto,
aquela sensação de não haver bússola.
Sem lar, sem laços,
o desejo operante no automático.
Você se levanta, insegura de seu passo.
Fecha a porta. Nem sei se volta.
E isso é um quase nada e tudo
: a diferença entre o valor e o preço.


12 comentários:

Anônimo disse...

Fabrício,
Faz tempo desde a última vez que visitei seu espaço aqui no blog.
E hoje me deparei com esse texto.
Uma palavra: magnífico.
Um abração,
Rôsi

Fabrício César Franco disse...

Rôsi,

Que alegria ter você de volta por aqui. Volte sempre. E deixe, quando quiser, suas pegadas! São elas (e as de outras pessoas que comentam) que me incentivam a continuar.

Abraço!

Anônimo disse...

Caríssimo POETA,
Conheci você como Profissional de RP.
Mas, hoje, na ARTE da "suaviloquência"(sic!) de seu texto, você se revela, sobretudo, MESTRE que analisa e retrata as difíceis RELAÇÕES HUMANAS!
Grande abraço,
Andrea Marcondes

Fabrício César Franco disse...

Andrea,

Agora entendo a pergunta, feita anteriormente, sobre a diferença entre os dois Rs (risos).

Não me considero mestre de nada, muito menos de arte(sic) tão complexa quanto as relações humanas. Ainda, mero aprendiz (todos os dias, coisas novas, tais como ondas num mar bravio, nos vêm e nos tentam afundar, forçando-nos a aprender a nadar de toda e qualquer maneira).

Abraço, com carinho!

Nanda disse...

Quase nada e tudo. A vida é cheia de situações assim; algum dia, entenderemos o porquê. ótimo final de semana!

Fabrício César Franco disse...

Nanda,

Será que é isso que é nossa meta aqui, entender o porquê? Vezes acho que a vida age conosco como um físico nuclear explicando a teoria das cordas para uma formiga...

Abraço!

Raquel Sales disse...

Fabrício,

fiquei pensando num trecho em particular... "me olha com uma falta de pressa como se sempre estivesse estado ali, a me olhar"...
Até que ponto é sinal de cuidado, até que ponto é hábito????
Talvez resida ai o grande dilema de conviver: olhar sem pressa, mas de jeito diferente...

Bj
Inté

Fabrício César Franco disse...

Raquel,

... Sim, sim! Você, como de sempre, atenta às conexões subjacentes do que escrevo, percebendo os níveis diversos das palavras. A dúvida, se é hábito ou carinho, permeia toda relação duradoura. Talvez seja a razão de escutarmos de tantos casais, ao celebrarem suas bodas (quaisquer que sejam), digam que o 'segredo' é o sacrifício, a paciência. Querem dizer com isso que o medo de romper com o hábito é o fator principal, noutras palavras? A saída, de novo, vem de você: "olhar sem pressa, mas de jeito diferente"...

Beijo!

Nanda disse...

O que fazer se sou uma 'formiga' curiosa? Posso não entender bulhufas; mas se me interesso pelo tema, eu tento...rs

Fabrício César Franco disse...

Nanda,

... Mas muitas vezes, interesse somente não traduz, em certezas ou verdades, o que precisamos saber. É algo, talvez, longe de nosso alcance, o que nossa compreensão não abarca. Contudo, não é para parar de se interessar, de querer saber. Ao contrário, é seguir nesse caminho, nesse inquirir, para, enfim, ter alguma direção apontada.

Abraço!

Will Carvalho disse...

Enquanto "na garganta da serpente" pra mim, fala da vida, do viver, existência, aqui, sinto o recorte de um momento, que na voz do poeta, é eterno. Há temas que na boca de qualquer um parece ser chulo, na voz do poeta, é belo. Parabéns.

Abraço!

Fabrício César Franco disse...

Will,

E escrever é essa difícil decisão de se manter no tênue equilíbrio do não-chulo. Obrigado!

Abraço!

 
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