Onde foi que me despendi ultimamente? E que importância paguei para nem encontrar meu troco, os bolsos vazios? Meu cofre de interesses trincou-se (a porcelana fendida em cacos) e não tenho mais onde depositar o pouco proveito. Vou despendendo minhas sensações, gastando-me constantemente. Exponho meu saldo: estou falido, no prejuízo do valor que não me dão. Já nem dou conta deste fundo, precárias horas sacadas e desembolsadas por completo no crediário da vida.
Exercício esquizofrênico: entregue à busca dos limites desta vida onde me instalo. Pois sou de uma contenção ferocíssima, o dia todo dentro. Pois careço da alforria do ser; ser um cariz novo que exista exatamente. Um cerne expurgado de tudo o que lesa, de todo o medo que medra entre os dias.
E enfim, encontrar a mim mesmo: homem superlativo, a contento.
A linguagem me perfaz. Palavras se reconhecem na minha língua, expandem-se na saliva, glossolalia compondo mil dialetos num sussurro de alvoroço. Os fatos e espalhafatos da escrita descascam-se de mim como cortiça, irrompem do harém da ideia e se fazem a peripécia de uma rosa mística florescendo na superfície branca. Escrevo em off : sou melhor no papel, aqui reescrevo, aprimoro, apuro. Caminho pela vida (latifúndio de acasos sem mapa) digitando pegadas de frases : pessoas param para ler meus rastros, medindo suas mãos nos pingos dos meus Is.