Dentro de mim ecoam tempestades
de lágrimas inderramadas,
colecionadas ao
longo dos anos
em letífero fluxo.
Quantas lágrimas
são racionadas
para cada um de nós?
Há uma quota que devemos respeitar?
Que cataclisma
resultaria caso meu pranto
arrebentasse nesse instante,
feito uma represa
que rompesse suas comportas
e tragasse a mim, na maré revolta
de tudo aquilo por
que eu já quis chorar,
nada obstando não consegui,
olhos que só sabem
carpir oceanos ressecados?
18 comentários:
Belo como escrito, mas na prática, talvez não seja a melhor forma de lidar com a dor. Beijos! =)
"... O senhor teve muitas e grandes tristezas, que passaram, e me diz que até a sua passagem foi difícil e desenganadora. Mas, por favor, reflita: essas grandes tristezas não terão passado, antes, pelo âmago de seu ser? Muita coisa não terá mudado dentro de si? Algum recanto de seu ser não se terá modificado enquanto estava triste? (...) Parece-me que todas as nossas tristezas são momentos de tensão que consideramos paralisias porque já não ouvimos viver nossos sentimentos que se nos tornaram estranhos; porque estamos a sós com o estrangeiro que nos veio visitar; porque, num relance, todo o sentimento familiar e habitual nos abandonou; porque nos encontramos no meio de uma transição onde não podemos permanecer."
Rilke, Cartas a um jovem poeta.
E quando é a nossa própria condição de existir é essa, Nanda? Quando nós somos - tão somente - assim e e isso é o que nos define, tão intrinsicamente?
Lei,
Primeiramente, obrigado pelo comentário - e citando Rilke, quanto mais! Segundo, não há como discordar do que está escrito, mas acrescento: e se a tristeza é tão sentida quanto os demais, que vertem cascatas dos olhos, apenas havendo aquele impedimento - inerente, inexplicável - de não conseguir trazer aos olhos as lágrimas? É menos tristeza?
Beijo!
Lágrimas contidas na represa dos sentimentos
São lágrimas desperdiçadas em muito sofrimento.
A angústia que sinto em suas palavras
Já senti em mim mesma, nem sempre acalmada.
Espero que tudo o que lhe aflige se resolva
Que as lágrimas secas, desperdiçadas,enfim se tornem esperança alcançada.
Bjusss
Suzana,
Tal como as marés, minhas águas vêm e vão. Contudo, o que me aparta de muita gente é que, enquanto cachoeiras são vertidas por motivos às vezes mínimos, em mim fica tudo represado. Acho que fui feito açude, retendo o fluxo, guardando fluxos bons ou maus. Não é tristeza, tão somente um transbordamento que se faz - há tanto - necessário.
Abraço!
Vivo em chuvas finas e constantes. Não há vida possível sem as águas que atravessam os ciclos da lua...
Beijo, poeta querido!
Ariana,
Eu, então, sou desértico, um Atacama nos olhos.
Beijo!
Fabrício,
“Que cataclisma resultaria caso meu pranto arrebentasse nesse instante”? Não sei responder. Só estou certa de uma coisa: a contenção do pranto eutrofiza e assoreia a alma, por fim extingue o gesto e nos torna terreno inóspito (em se plantando, nada dá)... Prefiro o turbilhão das lágrimas autênticas à placidez acalmada à custas de muito sapo engolido.
Bjim
Raquel,
Sei de todos os achaques que se me acometem, caso as águas continuem represadas. Mas não depende de mim, conscientemente, é algo além, fora do meu controle. Acho que, talvez, seja orgânico ou genético: assim fui feito, assim sou. Não há batráquios engolidos, contudo. Disso, ao menos, estou livre...
Abraço!
lindo...
é mesmo uma incógnita deduzir a quantidade de marés que nos assola.
[pior [?] para nós que as sentimos encher sem transbordar?]
se houvesse uma quota, tb não ajudaria a controlar... :|
beijo, caro
Rafaela,
... Quanto de nós é fundo e dique? Por vezes, acho que só somos isso: esse espaço imenso dentro, à espera de mais torrentes.
Beijo, minha cara!
Acho que a medida é a nossa vontade. Necessidade. Nossa alma precisa ser lavada, vez ou outra. Sobretudo almas de artistas, daqueles que sentem tão profundamente tudo. O Mundo as vezes é aquele moleque travesso da escola, que nos dá beliscões, que nos assombra. Existe a hora de enfrentá-lo, de denunciá-lo, de chora.
Lembrei-me de uma canção que adoro que diz "Pra sustentar meu riso, quanto choro é preciso?"
Abraços!!
Pois bem, Will, quanto choro é preciso (até mesmo naquele sentido de exato, proporcional)?
Abraço!
Sua experiência, jovem POETA, eu a tenho vivido há muitos... longos anos...
Lágrimas e dores sufocadas...
Mas o tempo e a VIDA me ensinaram: é preciso selecionar o essencial. É preciso manter o ânimo e a tranquilidade.É preciso expressar a inquietude - como você o faz- através da palavra. E, então, realizar o "carpe diem"(aproveita o dia!). Adquirindo, assim, a força para vivenciar o futuro.
Meu abraço,
Andrea Marcondes
Andrea,
Mas não são dores, as minhas, sufocadas. Ao contrário, são bastante à mostra, soltas na amplidão do meu peito, na verve da pele, no que vivo e falo. As lágrimas, no entanto, não me fluem: o pranto é represado além da minha vontade, não é vertido nem quando é de bom-tom. Genética, a culpada?
Abraço, com carinho!
Tua poesia, tuas lágrimas.
Beijo, querido!
Patricia.
E também minhas gargalhadas, Patrícia. Todo o espectro emocional, dentro dessas margens.
Beijo!
Postar um comentário