Eu me pasmo à sua beleza
que só flecha e curare,
relâmpago que se abre
ante meus olhos
como Escritura,
soco no diafragma
que lateja
pelo corpo todo
e dói dias a fio.
Meu olhar excursiona
por sua pele e consigna
os detalhes
deste inefável deslumbramento
grácil
tornado carne e sangue.
O encanto é mais
do que posso suportar
e me pego
boquiaberto
(ante a exata noção)
: monumentos
já foram construídos
por menos.
: monumentos
já foram construídos
por menos.
20 comentários:
O verdadeiro monumento é o que faz vibrar. Lino como sempre, querido!
Acho que há algo em Minas... Poetas maravilhosos, poemas deslumbrantes. Grácil me lembrou algo de Drummond... Definitivamente, há algo na água (ou será no queijo?) de Minas que inspira e habilita sujeitos únicos a criarem textos tocantes, inquietantes, provocantes. Não é à toa que meus poetas prediletos, incluindo você, claro, são dessa terra mágica!
Poeta,
Também me pego boquiaberta diante de tanta sensibilidade,desse seu olhar atento e aberto aos encantos.
Beijo,
Morena
Ariana,
Obrigado pelas palavras elogiosas. Fico muito feliz que você tenha pousado seus olhos sobre meu texto, e gostado.
Beijo!
Polly,
... Minas agradece seu interesse por nós, poetas mineiros. Não sou da estirpe tão nobre, drummondiana, mas fico feliz em ser citado junto a ele. Reconforta e dá ânimo (e alguma tensão, pela imensa responsabilidade).
Beijo!
Morena,
... E eu, de meu lado, fico agradecido pelo seu carinho com minhas palavras.
Beijo!
Fabrício,
excursionar pela anatomia e torná-la palatável é tarefa difícil, mesmo pra quem faz dela ofício, como eu.
Você foi muito além, transformou-a em poesia... Parabéns!!!
ps.: e por falar em Drummond... vc já se aventurou por "O amor natural"???? Inacreditavelmente anatômico e erótico... Aquele vovozinho era surpreendente...
Inté...
Raquel,
Muito obrigado pelo elogio.
Quanto à Drummond e seu "O amor natural", acho que quando ele o escreveu não era tão vovozinho assim. A publicação, talvez, tenha sido já na maturidade (segundo me lembro, acho que foi até 'post mortem', mas posso estar enganado), mas foi o resultado de anos de observação atenta.
Inté!
Realmente foi publicado 'post mortem' (tenho o livro) e remontava uma vida... Mesmo assim achei surpreendente... Coisa de "minerim comi queto"... Bastante conhecedor das alcovas, mas com ares de senhor de respeito... Rsrsrs
Raquel,
Sempre fiquei intrigado com a celeuma causada por causa da publicação do "O amor natural". Afinal, o que se esperava? Um poeta casto (seria essa a definição de poeta para a envergadura de Drummond: casto?) ou um poeta que não vivenciasse, em seu cotidiano, tudo o que nós - meros mortais - vivemos? Esterilizaram demais a figura do poeta, acho eu. E daí que ficou mais forte a poesia dele no livro, como uma recordação deste lado (alcoviteiro?) de que, tão comumente, esquecemos.
Inté!
Fabrício,
concordo, mas eram outros tempos... Num mundo de discrição (bem diferente do nosso), colocar uma pedra no meio do caminho já era uma trasngressão e tanto... Imagine declarar-se erótico...
Infelizmente, é hora de deixar as divagações literárias e retornar à vida real (Affff!!!). O lavoro me aguarda...
Boas divagações...
Inté
Raquel,
Bem, pode até ser, mas ainda não estou convencido de que não fora, tão somente, um engessamento do que a sociedade - sempre temerosa, sempre mais mediocrizante - queria para a imagem do poeta. O romantismo ainda tolhendo as expressões mais naturais, desvirtuando a verdadeira figura (o vir-a-ser) do poeta.
Saiba: é bom divagar literariamente contigo por aqui. Volte sempre!
Oi Fabício
Seu "Grácil", tão cheio de graça e intensidade, lembrou-me Adoniran Barbosa "de tanto levar flechada do teu olhar..." ♫ ♪ ♫
A beleza, posto que ela não é só estética, é bem mais que isto, pode mesmo flechar e ser matadora como curare, mas uma morte que mais instiga viver do que morrer.
Se constroem monumentos de pedras e de sentimentos também. Há coisas que são eternizadas pelo olhar e pela alma.
Beijos
Van,
Obrigado pela visita! E pela citação de Adoniram. Estou muito contente que um poema meu suscite Drummond e Adoniram, ou seja, estou muito bem acompanhado!
E você foi certeira no comentário: "morte que instiga a viver", daí, talvez a frase "linda de morrer".
Beijos!
Exuberância digna de um texto parnasiano; no entanto, sensível, dignamente romântico.
A beleza, aqui, se (con)funde sob a noção platônica e a kantiana.
Fantástico, Franco!
Bjos
Rafaela,
Achar pontuações kantianas em meu texto, que honra! Obrigado!
Beijo!
Caríssimo POETA,
Você me permitiu conhecer muitos de seus textos, antes de serem publicados. Confesso que este é , para mim, surpreendentemente NOVO!
GRACÍLIMO!(sic!"
Abraço, com reiterada admiração,
Andrea Marcondes
Andrea,
Não é novo, tanto assim. Havia outro título, menos sugestivo, menos côngruo. Um corte aqui, outro ali, segundo à moda de Melo Neto, e eis que o poema se faz inédito.
Um abraço grande, com carinho!
É como dizem: 'A beleza está nos olhos de quem vê'! =)
Nanda,
Muitíssimo obrigado pela visita. E sim, precisamos de novos olhares, para ver o que nos cerca.
Abraço!
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